terça-feira, novembro 28, 2006

Osculos e mais Osculos

Atravessa por entre todos os corpos amontoados pelo caminho que nos separa e vem ter comigo. Preciso de ti, aqui, com tua boca sobre os meus lábios carentes, acariciados pela solidão, pressionados pela falta, mordidos pela vontade de ter os teus lábios. Anda-me beijar, tornar unas as nossas bocas que não foram feitas para a separação labial. Sucumbe ao ímpeto, ao teu desejo reprimido de me tomar a boca nas tuas mãos, parando os tempos que correm num único momento ímpar em que experiencias a singularidade do nosso beijo. Um único beijo teu encerra todo o prazer que posso fruir a partir da carne. Deixa-me vir na tua língua, enquanto te a sorvo num gesto de pura oralidade. Sinto saudades da textura dos teus lábios impressos na maciez dos meus, a par das tuas mãos que falam francamente à minha pele. Estas acções conjuntas, potenciam-me os queres. Relembrar-me desse teu beijo que almejo, que agora quero e saudade sinto, torna sôfregos os meus desejos. É fácil entender quando se pensa que o teu beijo é o complemento do meu, que há uma supremacia nunca antes alcançada por outra boca em me molhar abaixo ao gotejar acima. Existe uma inegável relação intrínseca, indissociável entre as nossas bocas. O meu beijo busca o teu. A minha boca aguada pede por ser osculada!

quarta-feira, novembro 22, 2006

Contra o Dia

Acordo e, mesmo sem abrir os olhos, vejo-te ao meu redor. O teu cheiro ocupou-se do meu corpo, entranhou-se nele parecendo não querer se levantar da cama. Ainda estás aqui. És a primeira coisa com que me deparo ao romper da manha. Permaneces mesmo quando te apartas do meu corpo, deixando-me a metade numa cama que para mim só é grande demais. Não me mexo para não ser confrontada com o vazio que deixaste e neste estado nostálgico continuo, levando-o ao extremo, divagando naquele estágio intermédio entre cá e lá. Quero estar entre ontem e ontem, retornar à noite que nos encobriu os gestos, à cama que nos serviu tão pacientemente sem dar de si, aos lençóis que, no fim, nos acomodaram a carne fatigada. Tua essência perfeita poderia eu rebuscar na cegueira de uma multidão e encontrar. Conheço o teu cheiro como se de mim sempre tivesse feito parte... Fecho os olhos com mais força e, com os lençóis presos superficialmente pelos meus contornos, estremeço ao recordar o modo como nesta noite que à pouco se findou – que eternidade -, te inclinaste sobre mim, vindo ao encontro da minha boca já doente de saudade com os teus lábios macios. Sorrio. Afundas as tuas mãos no meu cabelo, passo a mão em ti, enlaçando a tua cintura, trazendo-te um pouco mais para perto, tão próximo que quase te sinto arrepiar num misto de calafrios onde o teu corpo se torna o palco dos confrontos das temperaturas arqui-inimigas. Verões dos sentidos. A calmitude que pairava vai perecendo nas mãos das ânsias crescentes, as línguas inquietam-se deslizando uma contra a outra , a par das mãos que, entretanto, de outros pontos se ocupam. Minha mão na tua anca, tua língua vindo do lóbulo ao colo, minha língua no teu ventre, tua mão me afagando o cabelo. Nossos corpos impressos um no outro, enquanto o meu pela tua pele desliza. Suspiramos pouco, logo gememos. Minha língua no teu meio, beijando - te outros lábios. Arrepio-me. Levanto-me. Do império das carícias fui eu ontem escrava ao ser tua cumcubina fiel, sempre pronta para me dedicar de corpo e alma à aquietação das tuas vontades.

terça-feira, novembro 21, 2006

Duplamente Curvilíneo

Encaminho-me para um fim, enveredando por locais de natureza familiar que palmilhei noutros tempos por razões diferentes. Hoje tudo tem um propósito especifico. Continuo andando em direcção as expectativas, à consumação das minhas ânsias de querer sempre mais. Tento apaziguar os meus pulsantes quereres que, gritantes, impedem que ouça para além das vontades. Não me ouço caminhar. Vou na esperança de encontrar o que me propôs hoje achar. Outra carne, um sexo similar. Uma alma que forme comigo um conjunto par. Curvas que se façam mais sinuosas enquanto pelas minhas viram! Alguém cujo corpo seja estrada de navegar, onde sem medos possa me afundar, vir à tona, respirar! Nessas curvas quero eu embater o meu corpo por inteiro, estilhaçar os desejos em fragmentos satisfeitos! Dá-me o teu olhar, deixa-me perscrutar a tua alma por ele adentro, sentir a fragrância do teu intimo exalada pelos poros da tua cara, enquanto te acaricio a face em jeito de respeito. Desculpa, caso tenha ido mais longe do que devia, todavia, já pouco controlo a lascívia que corre em mim. Sou contigo, corrente sem leito aonde navegar... És comigo, carne de curvas indefesas! Minha alma complemento sozinha, exasperando pelo reconforto que mãos como as minhas encerram na pele suave que recobre a suas palmas! O teu corpo assenta o que a tua boca cala e o que os teus olhos expressam. Permite-me que te indague as curvas com as minhas mãos e que com elas inscreva na tua pele sinónimos de prazer consentido, tanto quanto, almejado pelos nossos dedos que, agora, se interlaçam.

domingo, novembro 12, 2006

Consumações à Luz da Encoberta

Num mundo repleto de segredos obscuros cada um encontra o seu outro sentado nos locais socialmente reprovados. Dá-se uma cara à luz, irreprimível, que escondendo outras facetas, vive. Carregam-se os fardos diariamente, temendo os perigos das descobertas do nosso corpo preso enquanto desnudado a uma cama em que mais que duas pessoas se deitam. Deliciamo-nos em orgias nocturnas, fingindo-nos pudicos à luz destes dias pseudo liberais. Somos confrontados com as consequências do cinismo face ao poder do segredo tão abertamente consumado na segurança da nossa integridade. Finjo e sei não ser a única, convivendo com a pressão da dualidade da minha postura em vida. Todavia, os gostos perduram e naturalmente procurados acabam por ser provados. Repetimos as doses anormais de prazer de origem carnal, num vício que corrompe a carne e a face que se rasga do efeito em sorrisos largos de contentamento. Transpõe-se a barreira do aceitável definida pela boca de outrem, e indo-se além do saber proveniente de outros tempos, inovamos e somos condenados. Fugimos pois exploramos as potencialidades corpóreas sensitivas que das quais pretendemos prazeres imediatos. Num orgasmo rompo as amarras diárias das rotinas já conhecidas! Encontro nas gotas de suor que me humidificam os membros a fonte da sensação; corpos emaranhados em tesão. Deitando-se um, dois e três, com repetição de sexos, exponenciam-se as vontades; havendo mais mãos existem mais toques! Tocamo-nos instintivamente, trazendo aos nossos meios várias línguas juntas numa acção conjunta de saciação. Nesse momento perco os limites, alongo-me e estendo-me ao corpo do outro que se torna meu também. Torno-me mais carne, enriqueço a fonte de lascívia que jorra da minha boca, que hidratando lábios intensifica desejos... Deitemo-nos ou somente nos encostemo-nos que as vontades urgem pelas suas satisfações momentâneas!...

segunda-feira, novembro 06, 2006

Mulher de Carne, Carne de Vontades

O tempo já se conta longo, os dias deram lugar às semanas das abstinências prolongadas e, numa fracção de segundo, os toques se cessaram. As mãos pararam, os corpos, por fim, se aquietaram e o meu por aí ficou retido numa dimensão que pouco valor dá à sensação. Não sinto o desejo que outrora era a minha outra face. Fui despojada do conteúdo libidinoso que me molhava as entranhas e pelas minhas pernas escorria durante os apogeus da tesão. Virei carne sequiosa, tão estranhamente vazia e descontente que, estranhando me a mim própria, aparto me dos ensejos. Num querer e não querer o toque, almejo a volta aos tempos em que entregava todos os contornos que me definem o corpo à moldagem por outras mãos do prazer que me consumia. Quero ser de novo comida já que a sensação se encontra esbatida por falta de lembrança e temo que se finde de tanto ser reproduzida. Ajuda-me a relembrar-me quão boa é a textura da pele na pele ao sabor do suor que humidificando os membros emudece a boca. As vontades retornam-me mais pujantes e atrozes que julgo que sucumbirei caso não as mate vindo-me de novo com outros toques que não os meus... Gemendo reconheço quem sou; mulher de carne, carne dos prazeres, prazeres dos deleites, deleites dos leites próprios que feitos uma mescla traduzem os consumares carnais a dois. Aconchega-te em mim, bem no meu meio esquecido, renegado pelo tempo! Lambe-me vagarosamente, com folgos renovados por cada suspiro que liberto, até que na ponta da tua língua me contorça e me contraia e tu a minha molhes...