sexta-feira, março 20, 2009

Refluxo de sentimentos

Psiu… Sussurro-te baixinho de um ermo canto indicando presença. Reages à minha onomatopeia com a perplexidade de quem dúvida de uma alucinação. Dando um passo atrás, percorres com o olhar o perímetro escuro que encobre as possíveis direcções da minha voz. Entreabrindo novamente os lábios, mendigo em gemido vem-me reencontrar nas insanidades lascivas. O canto da tua boca treme, luta e perde, o teu rosto rasga-se num sorriso. Apesar da hesitação, prevalece nítido o desejo depravado que te anima ao corpo qual energia que te alimenta a vida. Procuras pressentir a minha existência no escuro daquele beco por onde enveredaste em desespero, perguntando por mim. Na curiosidade latente nessa oração, sinto a tua insegurança típica. Xiu… devolvo-te eu, embalando a tua ansiedade na serenidade da minha voz, deixo o teu espírito em desassossego. Abate-se sobre mim o peso das palavras apropriadas ao fim que te desejo ver preso. Logro de um saber vasto, escasso quando as vontades se anulam em jeito de vectores simétricos opostos. Ambiciono, por isso, ler na tua mímica facial no mínimo a intriga desta vontade radiofonicamente difundida. Quero celebrar uma nova despedida aos seres que nos tornamos na partida. Fecho os olhos, tremo, temo. Ignorância, bálsamo alegrador, penso. Repito; vem-me reencontrar nas insanidades lascivas - elevando meio tom cada letra até tomada a posição vertical. Agora de pé, encostada contra a parede, respiro a meio termo, estremeço. A segurança no discurso é adereço. Extasiado, divagas falando e caminhando sem nexo no cruzamento da luz com escuro-eu algures complexo. Inspirando prolongadamente, oxigeno a calma, tomo passos conducentes à tua posição, exalo o resto. Ouves-me e entras. Defronte, reatamos os nossos lábios num beijo sabido a retrocessos. Sara?... Desaperto-te as calças, enquanto bloqueias, tiro-te o para fora. Viro costas. Deixo-te. Breves momentos depois já na esquina ouço pingas, urinas.