segunda-feira, novembro 06, 2006

Mulher de Carne, Carne de Vontades

O tempo já se conta longo, os dias deram lugar às semanas das abstinências prolongadas e, numa fracção de segundo, os toques se cessaram. As mãos pararam, os corpos, por fim, se aquietaram e o meu por aí ficou retido numa dimensão que pouco valor dá à sensação. Não sinto o desejo que outrora era a minha outra face. Fui despojada do conteúdo libidinoso que me molhava as entranhas e pelas minhas pernas escorria durante os apogeus da tesão. Virei carne sequiosa, tão estranhamente vazia e descontente que, estranhando me a mim própria, aparto me dos ensejos. Num querer e não querer o toque, almejo a volta aos tempos em que entregava todos os contornos que me definem o corpo à moldagem por outras mãos do prazer que me consumia. Quero ser de novo comida já que a sensação se encontra esbatida por falta de lembrança e temo que se finde de tanto ser reproduzida. Ajuda-me a relembrar-me quão boa é a textura da pele na pele ao sabor do suor que humidificando os membros emudece a boca. As vontades retornam-me mais pujantes e atrozes que julgo que sucumbirei caso não as mate vindo-me de novo com outros toques que não os meus... Gemendo reconheço quem sou; mulher de carne, carne dos prazeres, prazeres dos deleites, deleites dos leites próprios que feitos uma mescla traduzem os consumares carnais a dois. Aconchega-te em mim, bem no meu meio esquecido, renegado pelo tempo! Lambe-me vagarosamente, com folgos renovados por cada suspiro que liberto, até que na ponta da tua língua me contorça e me contraia e tu a minha molhes...