quinta-feira, janeiro 20, 2011

Cenas Curtas

“Vá, vá! Saca desse .38mm que trazes”, vocirou Sara rapidamente ao ver Pedro entrar em casa. Bramindo os braços e com o indicador direito apontado sobre ao seu peito, completou cuspindo com os olhos semicerrados “Dispara”. Pedro estava perplexo. Vinha do trabalho despreparado para desempenhar a cena do amante encornado, possuído por ciúmes sem nexo que o levariam ao assassinato. “Se era suposto reencenarmos qualquer fetiche teu, não estou para aí virado”. O queixo de Sara descaiu em desânimo. Escorriam-lhe lágrima pelo rosto, sob a sua massa amorfa de cabelo com o qual encarava Pedro. “Baleia-me”, pede ela de novo um segundo depois. Desta vez o seu tom era de súplica em vez de ordem. Parte da janela à qual estava encostada, indo de encontro a ele, à semelhança de uma placagem frontal, mete-lhe a mão no coldre e saca-lhe a arma. Pedro hesita, perdendo o tempo único de reagir. Mirou o alvo que lhe gritava “Põe o teu dedo aqui, meu amor, mata-me”, começando a considerar que não se tratava de um jogo afinal. “Que se passa? Que se passa?”, questionou Pedro, perdido e confundido. “Põe o dedo aqui!”, exclamou veemente Sara. Ainda mal tinha concluído o pedido, quando lhe diz “Se me amas, dá-me um tiro”. “Claro que não, estás maluca?!”. “Se me amas, faz-me sentir viva antes de morrer.”