quarta-feira, novembro 22, 2006

Contra o Dia

Acordo e, mesmo sem abrir os olhos, vejo-te ao meu redor. O teu cheiro ocupou-se do meu corpo, entranhou-se nele parecendo não querer se levantar da cama. Ainda estás aqui. És a primeira coisa com que me deparo ao romper da manha. Permaneces mesmo quando te apartas do meu corpo, deixando-me a metade numa cama que para mim só é grande demais. Não me mexo para não ser confrontada com o vazio que deixaste e neste estado nostálgico continuo, levando-o ao extremo, divagando naquele estágio intermédio entre cá e lá. Quero estar entre ontem e ontem, retornar à noite que nos encobriu os gestos, à cama que nos serviu tão pacientemente sem dar de si, aos lençóis que, no fim, nos acomodaram a carne fatigada. Tua essência perfeita poderia eu rebuscar na cegueira de uma multidão e encontrar. Conheço o teu cheiro como se de mim sempre tivesse feito parte... Fecho os olhos com mais força e, com os lençóis presos superficialmente pelos meus contornos, estremeço ao recordar o modo como nesta noite que à pouco se findou – que eternidade -, te inclinaste sobre mim, vindo ao encontro da minha boca já doente de saudade com os teus lábios macios. Sorrio. Afundas as tuas mãos no meu cabelo, passo a mão em ti, enlaçando a tua cintura, trazendo-te um pouco mais para perto, tão próximo que quase te sinto arrepiar num misto de calafrios onde o teu corpo se torna o palco dos confrontos das temperaturas arqui-inimigas. Verões dos sentidos. A calmitude que pairava vai perecendo nas mãos das ânsias crescentes, as línguas inquietam-se deslizando uma contra a outra , a par das mãos que, entretanto, de outros pontos se ocupam. Minha mão na tua anca, tua língua vindo do lóbulo ao colo, minha língua no teu ventre, tua mão me afagando o cabelo. Nossos corpos impressos um no outro, enquanto o meu pela tua pele desliza. Suspiramos pouco, logo gememos. Minha língua no teu meio, beijando - te outros lábios. Arrepio-me. Levanto-me. Do império das carícias fui eu ontem escrava ao ser tua cumcubina fiel, sempre pronta para me dedicar de corpo e alma à aquietação das tuas vontades.

1 Comments:

At 8:03 da tarde, Blogger shakermaker said...

Ora viva...

Como se costuma dizer: alguém tem de ceder. Enfim, toca sempre tudo a todos e depois troca. Muito bem escrito, e sentido, claro está.

Um abraço...
shakermaker

 

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