quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Contracção

Oh querido, o que eu quero de ti é claro como os liquidos que me de mim emergem entre as pernas; quero-te para meu belo e vil prazer retrocido, de tal cruela que te que te pretende vil(irl). Persegue-me, deseja-me ao ponto tal de te dares ao trabalho de entrares e alimentares com palavras as minhas deliciosas divagações com palavras de tesão. “Gosto-te de ver retrocer de prazer entre os meus lençois”; ah como me contorço na tua cama. Toca-me acima, abaixo, aqui,além. Sê bussula, sondando-me todos os pontos cardeais. Querido, só quero é prazer, sem contrapartidas. Não celebremos contracto, que notário nenhum nos haveria de validar tão ousado acordo. Usa-me para o teu prazer, que dar-me-ás vontades tão prazeirosas como as tuas. Terei que dizer énesima vez, quero o mesmo que tu querido! Se não te basta, afirmarei: QUERO O MESMO QUE TU! Prazeres sem contrapartidas, dois corpos, duas pessoas, tirando prazer prazeiroso uma da outra! Tanta complicação para algo tão simples, tu entrando, eu fazendo o mesmo, um no noutro, outro em cada um.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Cenas Curtas

“Vá, vá! Saca desse .38mm que trazes”, vocirou Sara rapidamente ao ver Pedro entrar em casa. Bramindo os braços e com o indicador direito apontado sobre ao seu peito, completou cuspindo com os olhos semicerrados “Dispara”. Pedro estava perplexo. Vinha do trabalho despreparado para desempenhar a cena do amante encornado, possuído por ciúmes sem nexo que o levariam ao assassinato. “Se era suposto reencenarmos qualquer fetiche teu, não estou para aí virado”. O queixo de Sara descaiu em desânimo. Escorriam-lhe lágrima pelo rosto, sob a sua massa amorfa de cabelo com o qual encarava Pedro. “Baleia-me”, pede ela de novo um segundo depois. Desta vez o seu tom era de súplica em vez de ordem. Parte da janela à qual estava encostada, indo de encontro a ele, à semelhança de uma placagem frontal, mete-lhe a mão no coldre e saca-lhe a arma. Pedro hesita, perdendo o tempo único de reagir. Mirou o alvo que lhe gritava “Põe o teu dedo aqui, meu amor, mata-me”, começando a considerar que não se tratava de um jogo afinal. “Que se passa? Que se passa?”, questionou Pedro, perdido e confundido. “Põe o dedo aqui!”, exclamou veemente Sara. Ainda mal tinha concluído o pedido, quando lhe diz “Se me amas, dá-me um tiro”. “Claro que não, estás maluca?!”. “Se me amas, faz-me sentir viva antes de morrer.”

quinta-feira, junho 03, 2010

Procura-se acaso

Já pensei em ir contra ti um dia e fingir-me surpresa como se não houvesse plano na casualidade. O meio palmo de distância não te daria hipótese de fugires, obrigando-te a olhar-me nos olhos sem aviso. Antes de conseguires pensar, poderia ver o fundo da tua alma por um instante a reagir à minha expressão inócua. Nos teus olhos enxergaria a tua visão de quem fui um dia. Mesmo que má, poderia contentar a intriga e aquietar o espírito. Por fim, após essa prova dos nove, estaria em paz para enterrar-te. Até que isso aconteça, a data do enterro está indefinida e tu cada vez mais decomposto. Isto já acontecia, raios!

segunda-feira, maio 31, 2010

Personagem

“Admite! Isto é um teatro, no qual ambos actuamos”. – Disse-lhe ela num tom de voz cheio e grave, com um toque de ironia a levantar-lhe a ponta esquerda do lábio. Havia toque de sarcasmo que ele tão bem entendia. Mordeu também ele o lábio, como reflexo de um espelho, apertando as mãos sabendo que não o poderia negar. “Quem cala consente, sabes…”, continuou ela, gozando o poder de ter, uma vez mais, razão. “Se somos ambos actores”, prolongando-se nas palavras e com o dedo sobre o seu ombro, rodopiou, “porque não sermos outros hoje?”, questionou sentando-se ao colo dele. Agora ela era, sabia ele, a namorada do acampamento, bebendo cerveja e desafiando os seus amigos tolos para jogos de bêbados. Surgiu-lhe a memória dela no último verão - no qual andaram de parque em parte feito rali das tasquinhas -, de trança ao lado, vestido branco rendado e pés descalços. Era final de tarde, ela ria-se, tamanha a estala, de uma outra qualquer coisa sem nexo. Todos os dias faziam amor. Esse último pensamento chega-lhe, dando por si a aninhar-se nela, trocando um beijo prolongado. “Estamos a ensaiar?”, questiona ele no final do beijo. Os olhos pequenos dela riem-se, fechando-se como se não visse palmo à frente. Ele ri-se dela. Há amor ali. Ainda assim, ela queria ser mais. Ao fim ao cabo, ela também era mulher.

segunda-feira, março 29, 2010

EM CONSTRUÇÃO

Em copos de jazz tomamos vinho, perdendo o tino proporcionalmente ao volume ingerido. Nessa quantidade de líquido, diluímos os nossos seres ao ponto de apenas dele sobressair a nossa essência. Disto somos feitos nós; risos, trejeitos toscos humanamente loucos, possessos de vontades.

domingo, março 28, 2010

Encara(me)

Solta as mãos da cara para que possa ver as tuas expressões e, francamente, olhando-te aos olhos tomar-te de novo para mim. Sei que sou teu olhar de perdição; olha para mim. Perde-te na beleza do meu rosto que assim o achaste antes e desde então pouco tempo decorreu. Há algo em mim que me diz; quero perder-me em ti. Lutas contra a tua própria vontade visceral de me tomar nos braços e de na minha boca saboreares demoradamente os desejos mutuamente nutridos. Dá a tua boca à minha!... Quero experimentar sensações labiais além dos lábios bocais. No sonho teu, sei-me feliz. Meu desejo orienta-se no aqui e no agora; quanto mais perdurará ele sem que olhes para mim? Olha-me francamente; ainda é tempo dessas vontades por perder para o tempo. Vamos experimentar-nos. Ainda vamos a tempo; basta que me olhes…

sábado, março 20, 2010

Lugarejo Meu

Abandono o sofá maquinalmente, encaminhando-me para a porta. Sondo pelos recantos da minha mente o motivo mas, a cada passo, eles escondem-se. Nisto, deixo de conseguir concentrar-me sequer tamanha a energia que pulsa em mim. Chegada à rua, desato a correr. Suando pela vida, corro contra o tempo. Sigo pela rua das paixões desenfreadas, virando na esquina dos amantes inseguros para a avenida dos relacionamentos. Corto caminho por um estreitamento de via na rua do meu jeito que, afinal, era um beco sem saída. Contratempos. Tento mais acima no túnel dos compromissos a minha sorte. Recupero o ritmo já no largo da harmonia. Continuando, com a praça das ofensas nas costas, passo por baixo do arco dos bem-aventurados em direcção à avenida das saudades. Com o quarteirão da incerteza de lado, inicio a rua da esperança procurando ver-te na janela à espera, minha toponímia.