segunda-feira, abril 09, 2007

O Corpo Não Entende Desculpas

Tiramos à nossa boca seca ávida o prazer pelo qual os nossos lábios secam. A culpa cai feito fardo farto sobre o corpo a que se deu funções cognitivas, quando no fundo, a carne é coisa meramente sensitiva que de outras esferas não entende. Foi responsabilidade a mais para os contornos corpóreos que nos delimitam a extensão do prazer. O corpo não entende raciocínios mentais, nem outras justificações quer sejam fundamentadas ou fracamente atestadas pelos princípios do desejo. Querer é pouco hoje para confrontarmos corpos com corpos desconhecidos que dentro de si carregam outros tantos organismos estranhos. Deitar com outro é dormir com o passado que lhe macerou o rosto por acção das fustigações do tempo. No pico do domínio da vontade, a mente adormece, a razão se desvanece, sobrando ao corpo a carne que o edifica. Sem cabeça. Caminheiros errantes. Tiramo-nos o prazer de livremente gozarmos os deleites únicos da entrega pura. Se não for um, se calhar é outro, que num laivo de pura inconsciência se deu sem ver por dentro daquele a quem se entregou. Análises superficiais. E talvez um dia venha alguém que nos traia sem considerações, desrespeitando-nos naquele momento presente e para todo o sempre. Feitos pêndulos ponderamos se o risco pesa mais que o prazer desnudo, sem nunca esquecer que erros perduram e são coisa reincidente. Em súmula, eu, ao menos, não sou capaz de deixar de nos culpar por estarmos a tirar a nós mesmos o que mais pretendemos : o prazer.