domingo, agosto 13, 2006

Alcolicamente Contentada

Perdi a inspiração. As palavras, hoje, não me dizem nada. Deixei de me saber exprimir mas, mais que isso, já não sei o que sinto. A texura desta celulose compactada em folhas de papel já não me diz nada. Não sei o que diga ao papel. Não sei o que disse à tua pele. Estava inebriada, totalmente gasta pelo extravassar alcólico que da minha boca brotava e na tua pingava. Foram beijos sôfregos, trocados na ânsia do beber, alimentados pela sede insaciável do sabor dos teus lábios. A minha boca mendigava entreaberta por mais do que as palavras que a iam preenchendo arrastadas nas sílabadas da cevada. Foi ensejo edificado a vidro translúcido. Copos aglomerados sobre a mesa. Cacos dispersos pelo chão da calçada onde a explanava ficava. Era noite cerrada, de brisa amena, a temperatura pouco se alterava, era o meu corpo no teu, ainda que de estadia breve abstracta. Golos de imaginação fermentada. Minha mão fantasiosa sobre a tua perna, no calor dos entre meios da satisfação! Evocações do pouco real que ainda me lembro. Antevisão de outros momentos. Dei a minha saia à garrafa que suavemente nos deturpava os sentidos e, no meio do golo sem número de vez,a tua mão de novo por entre os meios deslizava. Corri mentalmente para fora dali. Sai de mim, entrei em ti. Um copo a partir e eu ali contigo, com outros também – corpos a mais. Abri os olhos. Lembro-me. Saimos. Andamos perdidos, encontrados pelas esquinas que nos encobriam os gestos alcolicamente desajeitados pela vontade exponenciados . Toquei-te e a familiaridade da textura relembrou-me dos prazeres que vivemos atrás –semana passada, anteontem, ontem, na explanada, a escassos metros dali, mais aqui, aqui! Desejei-te ainda mais. As palavras sem as expressões da experiênciação do teu gemido abarcado em mim, de nada valem. Fechei os olhos, esqueci. Sei que me vim. Ouvi-te a ti, sorri.