quinta-feira, junho 04, 2009

Cansei-me

Cansei-me do teu corpo; apesar das tuas magníficas curvas que tão bem se adaptavam ao formato da minha mão e cuja textura suave era apropriada ao seu percorrer, da fragrância do teu corpo que exalava forte no rego das tuas mamas quando te fazia suar na minha cama, do teu ondular rítmico ao compasso do meu, de me sentir vaivém indo mais adentro e pouco afora de ti, do timbre do teu gemido quando te orava herege, da tua timidez quando te olhava despida e de como isso me fazia rir, de transitar de um estado profundo de adormecimento para outro apenas suficientemente desperto para gozar o prazer de te sentir deslizar por mim abaixo ou ainda de acordar com a tua pele impressa à minha sem aviso, de te ver usar molhada a toalha mais pequena que te havia de dar, da tua expressão de deleite quando me adicionavas manualmente centímetros à tesão, da tua fixação pelo meu gemido grave que te livrava de preocupações, de me dares calores acabado de sair fresquinho do banho… Já nada disso me satisfaz; preciso de sangue fresco, carne nova para destapar demoradamente e assim dar à luz dos meus olhos novos milímetros e milímetros de possibilidades de sentir novamente o êxtase que contigo tive brevemente. Foste meu abrigo temporário. Findos recursos são tempos de ir, deixar-te para trás a dormir com o pensamento de que amei bem o corpo.

5 Comments:

At 11:54 da tarde, Blogger Miguel A. said...

Encontrar-te-ei um dia?

A tua escrita é fascinante, tu deves ser uma mulher fascinante.

Talvez por estas palavras possas saber quem sou, se verificares o teu mail num site em que tens um blog.

Gostei muito deste teu post, e vou ler os outros.

Beijos.

 
At 11:03 da tarde, Blogger Miguel A. said...

Não sei bem o que dizer depois de ler os teus posts; a tua escrita devora, impõe-se, quebra ditames e todas as regras que costumamos aceitar como definidoras da arte de escrever. Tens uma capacidade única para colocares palavras que fazem subitamente acender todo o texto; guias o leitor - é quase como se o forçasses a seguir-te -, apontando-lhe vários rumos, várias interpretações de leitura, como se fosses levantando e deixando cair véus. A tua escrita respira, transpira, incendeia-se, transforma-se a cada momento: é suave e delicada quando queres, mas também enigmática, aberta a muitas hipóteses de leitura. Impões-lhe um ritmo ora alucinante, ora pausado; quebras todas as regras convencionais de uma forma que há muito - mas há muito, mesmo - não via. Um grande escritor que muito admiro, Cardoso Pires, costumava dizer que a primeira condição para se escrever bem era saber a gramática; a segunda, a verdadeiramente importante e definidora dos grandes escritores, era esquecê-la.

É muito isso o que fazes: crias uma nova sintáctica, quebras todas as regras, impões um ritmo novo. Dominas uma nova forma de escrever.

E, ao mesmo tempo, crias uma nova forma de erotismo e sensualidade: é admirável o modo como a tua escrita pulsa, respira e ferve de erotismo. Foi como escrevi acima: a tua escrita devora. E tens uma incrível capacidade de te metamorfoseares; podes ser o que quiseres, as vezes que quiseres, vestires e despires personagens a teu bel-prazer.

Ao ler-te, não sei porquê, recordei até um sonho que tive há um ano, precisamente por esta altura, em Outubro de 2008, um sonho que jamais esquecerei.

Todos nós temos sonhos de cariz sexual, que reflectem os nossos desejos, carências e vontades sexuais; mas este foi diferente, foi uma espécie de apoteose sexual e emocional. Sonhei que vivi durante vários dias em casa de uma mulher oriental. Ignoro por que razão me "calhou" uma mulher oriental neste sonho específico. Fui muito feliz em casa dela, e junto dela: havia uma sala envolta na penumbra, uma penumbra onde havia um aroma - e isso é o mais extraordinário, pois nunca tinha vivido nenhum sonho em que "sentisse" um aroma - a flores e a chá, uma varanda que dava para um estranho jardim com pequenos seres que se moviam entre o arvoredo, e uma cama onde nos deitávamos e fazíamos amor. Mas, mais do que o prazer físico e sensorial do sexo, aquilo de que me recordo mais foi uma enorme sensação de felicidade. Senti que era feliz ao lado daquela mulher. Recordo que ficava deitado ao lado dela tal como gosto de fazer quando estou com uma mulher: com a minha mão sobre a perna dela. Feliz, cansado, saciado, mas com a minha mão sobre a perna dela, para a não deixar partir, sair de perto de mim. Creio que esse meu gesto, e o gosto que tenho nesse gesto, simboliza talvez o grande desejo que tenho de adormecer e despertar para sempre com a mulher que esteve a meu lado de noite; talvez signifique que eu estive dentro dela e é dentro dela que quero continuar a estar.

Não sei se algum dia te encontrarei, ou se algum dia venhas a ter vontade de me contactar. Aquilo que escreveste impressionou-me muito: é de uma estranha beleza, quase impossível de definir. É muito possível que por vezes passes até por mim, no comboio ou no metro, e eu fique a olhar para ti por um momento, pensando: "Será ela?"

Mas nunca esquecerei o que escreveste, e como a tua escrita me impressionou. Não sei se voltarás aqui, talvez não. E tenho muita, muita pena de nunca te ter conhecido, mas estou, e estarei, muito mais rico interiormente depois de ter lido as tuas palavras.

Um beijo muito grande, até um dia.

M.

 
At 3:25 da manhã, Blogger HornyMeUp said...

Estou bastante comovida com os teus comentários e também com o teu e-mail que, por acaso, li antes de me deslocar até a este meu blog. Acho interessante que o tenhas encontrado. Não sei o que te levou a procurar por mim e interrogo-me de como me encontrar aqui te fez sentir.

Ainda mais curioso facto, é que exactamente hoje me debrucei sobre uma página em branco e tentei escrever. A falha, ou semi-sucesso (numa perspectiva positivista, ainda escrevi umas frasezinhas)conduziu-me a ler produções textuais minhas de outra índole, também sentimental, antes de convergir totalmente neste temática.

Hoje, compreendi coisas importantes acerca de mim mesma. Acabei tendo duas conversas muito interessantes e importantes para caminhar mais um passo no meu auto-conhecimento.

E, nesta noite que não se avizinhava nem um pouco estranha, ganhei tanto.

Ao reler-me, acho sempre que existem coisas muito interessantes,frases e sonoridades únicas, temáticas recorrentes, um esforço por quebrar convenções e criar expressões sem formular neologismos que só na minha cabeça têm correspondência. Conquanto hajam muitas falhas; todos eles foram textos escritos com todo o desejo que em mim havia e, esse, por vezes, sai desajeitado.

Toquei muita gente com a minha escrita mas por força de muitas circunstâncias de vida, ela perdeu-se e nunca mais chegou a leitores que a comentassem por palavras.

E mais do que uma produção literária digna deste termo, o objectivo dos meus textos é brotar em que lê emoções e, principalmente, desejo de uma forma, por vezes, pouco convencional.

O meu desejo para esta minha actividade, que tem um pouco de secretismo, é matura-la para que se torne arte de forma a calar cronistas, como os do Público (se não estou em erro - a isto se chama memória selectiva), que diziam, há um par de anos, à boca cheia que não é possível escrever erótico em português sem se cair no brejeiro.

Muito obrigada por completares esta minha noite. Fiquei surpreendida por chegares aqui.. aliás, eu vinha aqui buscar textos que não publiquei no outro local para te mostrar...

 
At 4:58 da tarde, Blogger Miguel A. said...

Faz hoje precisamente quatro anos que tive um dos dias mais felizes da minha vida; mas não sabia, então, que era apenas eu quem sentia essa felicidade. Ao longo destes quatro anos nunca pude, por mais que tentasse, evitar recordar com tristeza um dia que acreditei ter sido muito feliz. Aprendi, compreendi que estava enganado, amadureci - mas sabes, às vezes penso que não é justo amadurecer-se em resultado de uma dor. E todos os anos este dia doía-me.

Hoje vim aqui ao teu blog para te reler, e encontro o teu comentário. Estou tão sensibilizado e feliz que há mais de uma hora tento escrever-te. Escrevo e apago, volto a escrever e a apagar, e ao fazer isto penso que não pode ser - não posso andar a construir e a destruir, mas então, para me sossegar, lembrei-me novamente do Cardoso Pires, que disse ter ficado muito feliz com o advento dos computadores, porque tinha finalmente uma máquina que lhe permitia apagar ! Ele apagava muito do que escrevia. Não podes imaginar como me sinto feliz. As tuas palavras, escritas precisamente hoje, apagaram para sempre a mágoa de um dia vivido há quatro anos. Quando no futuro me lembrar deste dia, lembrar-me-ei sempre que foi o dia em que cheguei ao teu blog e vi nele um comentário para mim.

Não consigo dizer-te com certeza absoluta o que me levou a procurar por ti. Não sei explicar bem. Quando no outro site encontrei o blog que lá tens fiquei uma noite inteira a lê-lo e a relê-lo. Texto após texto, senti que tinha descoberto uma nova forma de escrita. Eu nunca tinha lido nada assim. Nada que tivesse o fôlego, o ritmo e a estrutura inovadora da tua escrita. Escreves de uma forma que prende - não, não é bem isso, é muito mais do que isso. Escreves como se não houvesse amanhã. Escreves com o sangue, percebes o que quero dizer? Fiquei deslumbrado, sem saber o que pensar e dizer. Deixei assentar a poeira e pensei: "É impossível. Ela tem de estar noutro lado. Quem sente a escrita desta forma tão emotiva e intensa tem de estar noutro lado, não pode estar apenas aqui neste site. Tenho de a encontrar. " E assim te encontrei aqui.

Desculpa, vou ter de dividir este meu comentário em dois por causa do limite de palavras.

 
At 5:39 da tarde, Blogger Miguel A. said...

Referi-te o sonho que tive com essa mulher oriental porque a tua escrita me fez imediatamente recordá-lo. Foi o sonho mais belo que tive em toda a minha vida, e, como acredito que os sonhos são também parte intrínseca da nossa vida, posso dizer que foi um dos momentos mais belos que tive em toda a minha vida. Foi de uma felicidade tão intensa que chega a doer, estas coisas são tão inexplicáveis... Há uns anos vi "Os amantes de Maria", com a Nastassa Kinsky, e percebi que a minha forma de sentir e pensar não era assim tão louca... no filme, o marido dela amava-a tanto, e de uma forma tão absoluta, que a não conseguia sequer tocar. E ela não percebia, achava que ele tinha deixado de gostar dela, mas era precisamente o contrário. Ele cada vez gostava mais dela, e tanto que lhe fazia impressão tocar-lhe.

Ao ler os teus textos recordei esse sonho. Porque há também na tua escrita essa capacidade muito invulgar de "lançar" o leitor para um espaço onírico. Fazes uma coisa que é muito raro fazer-se: utilizas e misturas vários registos, vários níveis de escrita. A tua escrita é corpo e cérebro simultaneamente - realismo, sensualismo e sensualidade. (Na música, e que me perdoem todas as grandes cantoras deste planeta, só uma pessoa conseguiu até hoje cantar com corpo e cérebro simultaneamente: Elis Regina.)


Descobrir a tua escrita foi, para mim, descobrir um mundo novo. Fiquei fascinado. Uma pessoa que escreve assim tem de ser uma pessoa fascinante. E tenho de te agradecer muito, não só pela riqueza que acrescentaste à minha forma de sentir e pensar a escrita - e, portanto, à minha forma de pensar a vida -, mas também pela tua gentileza em me teres respondido. Respondendo directamente à tua pergunta, encontrar-te aqui fez-me sentir muito feliz, é apenas aquilo que consigo dizer. E hoje fiquei muito emocionado ao ler o teu comentário. Tive a mesma sensação que se tem quando encontramos alguém que nunca esquecemos ao longo da vida, mas que há muito tínhamos deixado de ver. Desculpa-me se no email que te escrevi eu te pareci demasiado... não sei bem como me explicar... mas a afinidade que senti contigo foi enorme, inexplicável, e trouxe-me o desejo de uma felicidade que sempre imaginei e nunca senti.

Um beijo muito grande para ti, até um dia.

M.

PS: Não deixes que esta tua actividade de escrita se torne secretiva. Ela é a prova viva que estão enganados todos os cronistas e jornalistas. Escreve e escreve sempre. Para sempre.

 

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