Pecadores
Faz de mim o livro carnal a quem aconchegas à lombada a palma da tua mão. Acaricias me a encadernação como um amante dedicado às palavras impresas na pele. Sinto-me folha nua ansiosa por ser manuscrito de testamentos alusivos à consumação de pecados. Transgrides qualquer especie de lei presente na escrita, borrando todos os meus poros com acessos de loucura até mais nada neles caber. Exalo suores de excitações liricas. Do meu corpo transbordam desejos sob a forma de tinta liquida que me pintam as expressões vedadas pelos Preceitos do Decálogo. Tomamos o prazer em cálices sexuais deitados em leitos versificados. Solto mantras de interjeições, onde a tua mão pousa e me interrompe devolvendo o meu quadril ao teu. Cortas o silêncio em quadras de intensidades assimétricas a ponto de nos chamarem hereges! Profanemos pois então, como manda a tradição do pecador, a graça presente no corpo em coitos proibidos dissimulados por lençois de bem parecer. E se o amor ao prazer faz de mim pecadora será essa a cruz que transportarei ao longo da via sacra da sala para o quarto, da mesa para a cama, bem cravada no meio da minha virtude.
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